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  • O dilema da autopromoção

    O quanto divulgar os resultados do seu trabalho te incomoda? O dilema da autopromoção: O quanto divulgar os resultados do seu trabalho te incomoda? Quantas vezes você sentiu-se constrangida ao contar que aquele projeto foi um sucesso? Ou então, sentiu-se envergonhada ao receber um elogio na frente de outros colegas? Se você perdeu a conta de quantas vezes situações como essas aconteceram, esse texto vai te interessar. Não por acaso usei aqui as palavras "constrangida" e "envergonhada". Sei que situações como essa podem ocorrer a qualquer pessoa, mas, infelizmente, a realidade é que tais sentimentos têm afetado muito mais as mulheres e ao longo do texto vamos entender por quê. Já há algum tempo o meio corporativo convencionou que não basta fazer, é preciso mostrar que fez. Eu, inúmeras vezes, ouvi a frase infame: "não basta pôr o ovo, tem que cacarejar"... Pois é. Eis o dilema da autopromoção. Fato é que tal situação gera um grande dilema: o quanto posso parecer exibicionista ao compartilhar resultados positivos de um trabalho? Tal receio – alimentado pela posição social que nós mulheres ocupamos – faz com que muitas de nós prefiramos manter o estilo humilde e discreto em meio a tantos feitos profissionais. Questões sócio-históricas Historicamente, mulheres ocupam um lugar de generosidade, entrega e modéstia, ocupando um lugar ao lado – ou durante muito tempo, atrás – de homens protagonistas, provedores e líderes de família. Como boas mães, filhas, irmãs ou esposas são as cuidadoras, multitarefas, antecipam necessidades e pacificam conflitos. Ao longo dos anos muita coisa evoluiu (infelizmente não pra todas, nem em todo lugar). Mas é fato que mulheres adentraram o mercado de trabalho, conquistaram espaço, visibilidade e contribuíram para importantes conquistas. Porém, nada disso fez com que essas características “femininas” não continuassem sendo esperadas no mercado de trabalho. Podemos ser altamente produtivas, responsáveis, ter excelente gestão do tempo e de grandes projetos e equipe – afinal, desde pequenas estamos sendo treinadas para cuidar de uma casa e da família, né? Porém, não pega bem sermos competitivas, termos ambição e menos ainda, exibirmos nossos feitos. Em situações em que mulheres se impõem, são firmes em suas opiniões e não admitem ter sua voz silenciada, são imediatamente tachadas de difíceis. Pra não dizer outros "elogios" que recebem pelas costas. E todo esse contexto vai enraizando a crença de que o nosso trabalho deve falar por nós. Basta seguir se dedicando com excelência que em algum momento alguém vai ver e nos dar o valor que tanto almejamos e merecemos. Será? Não acho impossível, mas bem pouco provável. Principalmente em um meio competitivo e egóico como o corporativo. Sobre quem sabe se vender O cenário piora – e muito, quando aparece alguém que, pode nem ser tão bom profissional assim, mas sabe se vender. E assim, ganha o espaço e a oportunidade que estávamos há meses aguardando enquanto nos matamos de trabalhar, de forma paciente e compreensiva. Vale pontuar que o termo "se vender", vem sendo aplicado a homens (em grande maioria brancos e héteros) com disposição de falar de si mesmo, sua carreira e conquistas. Porque homem no meio corporativo não se exibe, ele se vende. E com maestria, aproveita toda e qualquer oportunidade para se transformar na pauta da conversa. O mais comum é apontarmos para essa pessoa que "sabe se vender" e sentimos um desconforto. Afinal, de forma mais rápida ela “passou na frente” e chegou lá. Puxa saco, seria seu apelido carinhoso. Situação muito bem descrita no livro "A outra garota negra" de Zakiya Dalila Harris, uma obra incrível que trata sobre racismo, identidade, pertencimento e relações de trabalho. A protagonista, Nella, é uma mulher negra que finalmente consegue um emprego em uma importante editora. Ela era a única negra no time, até que Hazel é contratada. Inicialmente, Nella acredita que terá em Hazel um apoio e que juntas farão pequenas revoluções e se apoiarão diante das dificuldades cotidianas enfrentadas por trabalharem em um ambiente majoritariamente branco. Porém, Hazel tinha outro perfil. Ela entrou na editora pronta pra "jogar o jogo". Rapidamente procurou entender como tudo funcionava, se aproximou verdadeiramente de pessoas influentes e conquistou para si uma atenção especial. Aprendeu rápido, trabalhou bastante, mas principalmente sabia "se vender" e logo teve muito destaque. "O status de celebridade que Hazel havia alcançado em tão pouco tempo a atingiu de um modo que a incomodava, e a incomodava estar incomodada, acima de tudo porque ela e Hazel deviam estar no mesmo time.[...] Nella nunca tinha recebido um pingo da atenção que todos davam a Hazel. Se fosse pra ser sincera, ela diria que nunca havia pensado que algum dia receberia essa atenção". E esse é o ponto, pela falta de crença de que merece essa atenção ou de que recebê-la era algo possível, a fez nem tentar. Assim, a personagem segue: "Devagar e sempre, na esperança de tornar sua trajetória um pouco mais tranquila, na esperança de conseguir uma promoção, aceitará todas as desculpas". E aí? Tem algo de errado no comportamento de Hazel? Ressalvas importantes Não estou falando sobre inventar conquistas apenas para ganhar visibilidade. Menos ainda em passar em cima de alguém de forma antiética, sob a justificativa de ser ambiciosa e "saber se vender". Também não estou falando de puxar saco, ou ter uma doação extrema a chefes e empresas, para talvez ganhar oportunidade. Menos ainda se tornar uma narcisista que tenta virar a pauta de qualquer conversa. Falo sobre saber divulgar seus verdadeiros feitos e se permitir sentir orgulho de suas conquistas a ponto de compartilhá-las. Afinal, isso vem sendo feito há muito tempo no mercado de trabalho, pelos homens. Mas, quando encontramos uma mulher com esse perfil, vem junto um ar de surpresa e desconfiança. Para escrever uma nova história Como no mundo corporativo essa habilidade é, sim, valorizada e pode abrir portas, a provocação aqui é sobre como falar sobre conquistas de maneira mais orgânica e justa. Considerando que isso pode servir de exemplo e incentivo para que outras mulheres se sintam confortáveis em fazer isso também. Mas, qual a nossa dificuldade em fazer isso? Primeiro, acho que cabe entender que existe um jogo. Sim, um jogo do mundo corporativo, que segue um padrão de funcionamento, nem sempre justo e com regras implícitas, que todos jogam – mesmo sem saber. Tendo consciência disso, para conseguir jogá-lo é preciso muita inteligência emocional, excelente relacionamento interpessoal e se livrar de qualquer receio de aparecer. E é justamente esse terceiro ponto que pega para a maioria das mulheres. Pois ele envolve conceitos enraizados na nossa criação e vão contra àquela postura generosa e humilde que a maioria espera de nós. Vejamos algumas ações que considero importantes: É preciso perder o medo e a vergonha de divulgar com verdade e respeito o que de fato você fez, destacando suas experiências, conquistas e habilidades. Veja um caso real de como isso parece simples, mas não é: Recentemente participei de um projeto de escrita com várias mulheres competentes, com carreiras extensas e cheias de conquistas. Durante o processo iriamos escrever sobre nós e todas, absolutamente todas, tinham muito receio de parecerem exibidas ou vaidosas ao narrar suas conquistas profissionais. Elas tinham realizado muitas coisas importantes, mas na hora de contar isso pro mundo sentiam estar ocupando um espaço que não era delas. Enquanto as ouvia falar, eu só pensava que contar nossa trajetória e os frutos do nosso esforço não é se exibir, mas sim se valorizar. E como sentir-se confortável para fazer isso é tão relevante quanto a capacidade de executar. Desenvolver habilidades comportamentais para superar antigas crenças de que divulgar seu trabalho seria errado ou puro exibicionismo. Um processo de autoconhecimento e autoestima: É fundamental trabalhar a vulnerabilidade, síndrome da impostora e revisar valores e prioridades. Desenvolver uma comunicação assertiva e não violenta para conseguir se expor com mais tranquilidade. Reconhecer e valorizar nossa trajetória, de forma que para além do esforço e dedicação diárias, também sobre um tempo para estrategicamente compartilhar os feitos. Estar atenta para aproveitar as oportunidades de falar sobre coisas que você já fez, já conquistou. Compreender que esse se sentir desconfortável nesse processo é resultado de uma construção histórica e social que nos moldou. Superar isso não é simples. Vá com calma e seja generosa com você: Bem importante refletir sobre o porquê temos essa dificuldade e vislumbrar as oportunidades que poderíamos ter ao mudar esse comportamento. Lembre-se de todas as vezes que você preferiu não se candidatar para aquela oportunidade que tanto queria por achar que se você merecesse seu superior iria te chamar; ou então não fez aquele post lindo sobre as metas conquistadas pra não parecer exibida, está alimentando a crença de que basta trabalhar duro e entregar com excelência. "Quando você não está acostumada a se sentir segura, apresentar-se autoconfiante pode parecer arrogância. Quando não está acostumada a se posicionar, ser assertiva pode parecer agressividade" Aurora, o despertar da mulher exausta, da Marcela Ceribelli. Provavelmente, nessa virada de ano você fez um balanço sobre 2022 e recordou importantes conquistas e aprendizados. Que tal compartilhá-las com o mundo? Por que não? Faz sentido pra ti? Vamos trocar opiniões aqui nos comentários! Obrigada por ler, se você gostou compartilhe com seus amigos. Sigo tentando liberar um texto novo todo mês. Se quiser, envie sugestões de pautas para os próximos meses.

  • Quando mudar é uma opção

    Uma reflexão sobre transição de carreira e recomeços possíveis. Quando mudar é uma opção: Uma reflexão sobre transição de carreira e recomeços possíveis. Vivemos a era da escassez, nos falta tempo para fazer tudo que queremos, produzir tudo que nos exigem e ainda ser feliz, manter corpo e a mente em dia. O resultado é a constante sensação de nunca ser bom o bastante, nunca ter tempo e energia suficientes. Nesse contexto é muito fácil confundir a insatisfação profissional com um momento de exaustão. Você percebe que não se identifica mais com a profissão, não há motivação para fazer todo dia o que antes fazia com prazer. Mas aí vem a negação: é só cansaço, preciso de férias… uma pausa e tudo vai se ajeitar. Só que a sensação de tempo perdido, num ambiente e/ou atividades que já não acrescentam ao seu desenvolvimento, não passa. Em alguns casos mais agravados, o domingo vira o pior dia e com ele chegam as crises de ansiedade, dor de cabeça, de estômago, insônia… E o problema vai tomando uma proporção bem difícil de ignorar. "Vulnerabilidade não é conhecer a vitória ou a derrota; é compreender a necessidade de ambas, é se envolver, se entregar por inteiro". Brené Brown Acontece que, ao longo dos anos, todos nós mudamos e aos 30 já não somos mais a mesma pessoa dos 20 (e ainda bem!). Nossas experiências de vida, amadurecimento, acertos e erros da caminhada nos transformam e às vezes, aquilo que almejamos também muda. Assim, a profissão escolhida há 10 ou 15 anos, pode não estar mais alinhada com valores e propósitos atuais. Então, sim, pode ser que aos 30, aos 40, aos 50 ou mais, você ainda esteja descobrindo novos talentos, prazeres, crenças e por consequência novos objetivos, pessoais e profissionais. Somente depois de algumas experiências, nem sempre positivas, é que temos condições de conhecermos de verdade nosso propósito, gostos, motivações, valores. Segundo a escritora e pesquisadora Brené Brown, a vulnerabilidade é estar aberto para a vida e para as relações sem medo de errar. Isso não é fácil, pelo contrário, ela considera um ato de coragem. Mas extremamente compensador, para se viver uma vida com relações mais honestas, sólidas e capazes de transformar. "O que nós sabemos tem importância, mas quem nós somos importa muito mais". Brené Brown Quando mudar é uma opção Após anos dedicados na construção de uma carreira, o quão fácil é deixar tudo de lado e começar de novo? Pensar na mudança é fácil, quase diariamente todos nós pensamos. Agora mudar de verdade é bem mais difícil e na maioria das vezes, um privilégio. Antes de mudar, é fundamental refletir, conversar com pessoas da sua confiança e principalmente ser muito honesto com você mesmo. Afinal, essa jornada de mudança será extremamente pessoal e solitária em alguns momentos. Avalie quais das habilidades que você desenvolveu na antiga carreira podem ser úteis na sua nova trajetória. Considere haver capacidades que são universais e fundamentais em qualquer profissão, como responsabilidade, comprometimento, bom relacionamento interpessoal, proatividade, organização, desenvolvimento contínuo, entre outras. E lembre-se que toda experiência é válida, nos transforma e contribui com a pessoa e profissional que somos. Portanto, tenha em mente que nada do que você construiu e aprendeu até aqui será jogado fora. 3 dicas que podem ajudar na avaliação: 1. Não gosto mais dessa profissão ou não gosto do lugar onde estou? Às vezes um ambiente ruim pode nos desiludir ao ponto de confundir nossos interesses. Será que você não gosta mais da sua profissão ou não gosta mais de executar essas atividades no lugar em que você está? O problema são suas responsabilidades diárias, ou as pessoas, valores e propósito da empresa para qual você trabalha? Considerando um trabalho de 9hrs/diárias, 5 dias por semana, é possível dizer que passamos a maior parte do nosso tempo de vida no ambiente de trabalho. E se ele não for agradável para você, com certeza sua rotina se tornará muito difícil. Não falo aqui sobre a falácia de amar o seu trabalho a ponto de não parecer que está trabalhando (isso não existe) ou encontrar o local dos seus sonhos (porque isso também não existe), trabalho é trabalho. Sempre terá algo que não concordamos ou nos desagrada. A questão é o quanto isso importa para você e como isso afeta ou não os seus limites de aceitação e resignação. 2. Não me identifico com mais nada nessa profissão ou apenas com algumas tarefas? Talvez, sua mudança não precise ser radical e com apenas algumas adaptações seja possível se realocar. Avalie a posição que você ocupa atualmente, na sua relação de trabalho atual (CLT/ PJ) e até no formato de trabalho. Exemplos: a) você gostava da profissão até ser promovido para uma função de gestão e o acúmulo de atividades e responsabilidades fez você repensar a profissão. Mas, talvez você só não goste de gestão! Será que não vale retornar à função anterior? b) Você gosta da sua profissão, mas está infeliz com o ambiente e a rotina corporativa. Será que não seria uma alternativa trabalhar com consultoria, de uma forma mais autônoma e flexível? Enfim, os exemplos são muitos, mas a ideia é que você amplie sua visão e observe o problema sobre diversas perspectivas. Os padrões sociais nos dizem que o objetivo de uma carreira de sucesso é subir todos os níveis possíveis, quanto mais lá em cima mais sucesso. Porém, às vezes você pode ser feliz como analista, especialista, consultor, empreendedor. Nem todos gostam ou tem habilidade para seguir o fluxo padrão de uma carreira corporativa e é muito possível seguir por outros caminhos. Então pense: você não gosta mais da sua profissão ou da posição que você ocupa? O que exatamente você quer mudar? 3. Qual minha relação com o trabalho hoje? Nem sempre podemos jogar tudo pro alto assim de uma hora para outra. As realidades nesse brasilzão são diversas e muitas vezes a relação das pessoas com o trabalho é de extrema dependência. Portanto, após refletir sobre seus objetivos profissionais, a primeira atitude a ser tomada é a construção de um planejamento financeiro. Entender seus gastos fixos, juntar uma reserva financeira, talvez iniciar uma atividade que te dê renda extra. Se organize para ter segurança de mudar com mais tranquilidade. Sem reserva financeira e um bom planejamento, uma mudança como essa pode começar fadada ao fracasso. Fazendo com que você não tenha o tempo necessário para se posicionar em um novo mercado e precise voltar para carreira anterior e/ou acabar em um emprego que você também não gosta. Para fazer dar certo essa etapa é fundamental. Dica extra: Confie no poder ócio. Acredite que só podemos ter clareza sobre o que realmente queremos se dedicarmos um tempo para fazer nada. Não é possível refletir e olhar para dentro, vivendo no automático, sem tempo para pensar ou respirar direito. Se você está nesse processo de mudança, tente criar um tempo de ócio para você se conhecer melhor. Reflita sobre sua personalidade, suas características, o que mais gosta de fazer no seu tempo livre... nesse percurso você identificará o que te interessa mais, fazendo seu olho brilhar e o coração bater mais forte. Talvez aí esteja a direção da sua mudança. Por fim, nunca esqueça: o que temos de mais precioso nessa vida é o nosso tempo. Ele passa rápido demais para dedicarmos toda nossa energia em algo que não faz sentido. E você, só você pode escolher onde depositar seu tempo e sua energia. Trabalhar todos precisamos (a não ser que você seja herdeiro(a)), mas você pode fazer isso de forma mais saudável, em um ambiente e no formato que mais combinam com seus interesses no momento. O caminho não é simples, mas é possível. "Costumamos pensar que a escolha é uma coisa, mas, na verdade, é uma ação. Não se trata apenas de algo que possuímos, mas de algo que fazemos. Essa experiência me levou à compreensão libertadora de que, embora nem sempre tenhamos controle sobre as opções, sempre temos controle sobre qual escolhemos". Greg McKeown Deixo também a dica de dois livros incríveis sobre comportamento e desenvolvimento pessoal que podem ajudar muito você a pensar sobre transição de carreira: Essencialismo, do escritor Greg Mckeown A Coragem de ser Imperfeito, da escritora Brené Brown Faz sentido pra ti? 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  • Como você se relaciona com a literatura?

    Uma reflexão sobre eventos e revistas literárias Como você se relaciona com a literatura? Uma reflexão sobre eventos e revistas literárias Tive o prazer de prestigiar a primeira edição do FiliGram - Festival Internacional de Literatura de Gramado. Iniciativa que reuniu escritores, profissionais do mercado editorial, livreiros, curadores, leitores e incentivadores da literatura, promovendo a aproximação do público com o universo literário. Escolhi a dedo o dia para participar e curti muito a programação do eixo temático Mercatto, organizado pelos curadores Vitor Diehl e Giovani Urio do portal Literatura RS, com uma programação focada no mercado editorial. Achei os temas super pertinentes e com falas de profissionais de grande representatividade no cenário gaúcho e internacional. O que eu vi por lá Assisti à fala do escritor e pesquisador Michael Bhaskar, sobre curadoria, tema do seu livro: Curadoria: o poder da seleção no mundo do excesso. Uma participação internacional, transmitida em tempo real também pelas redes sociais do evento, sobre esse que é um tema mais que relevante no contexto de muita produção de conteúdo, principalmente no digital, que vivemos. Ele abordou também a diferença entre curador e influenciador, fazendo pensar sobre o que está por trás das recomendações feitas na internet. Também acompanhei o painel com curadores de eventos literários gaúchos, com Fernando Ramos da Festipoa Literária, Ana Paula Cecato da Feira do Livro de Porto Alegre e Miguel Rettenmaier da Jornada Literária de Passo Fundo, que debateram a importância desses eventos para o incentivo a leitura e formação de novos leitores. Eles destacaram a necessidade de investimento pelas leis de incentivo e as dificuldades enfrentadas no atual cenário em que a cultura em nosso país está sendo desprezada e sofrendo diversos cortes. E o painel que cito com destaque, foi com editores de revistas literárias independentes aqui do Rio Grande do Sul. Profissionais que de forma autônoma e voluntária mantêm vivos veículos dedicados à literatura, incentivando e dando espaço para escritores iniciantes. O papo foi com Carolina Panta da La Loba Magazine, Doralino Souza da Rosa da Revista Paranhana Literário, André Santos da Revista Literomancia. Todos eles dedicam suas horas livres para editar e produzir revistas literárias que depois são distribuídas gratuitamente em formato digital. Apesar do excelente trabalho executado por eles, todos citam não haver rentabilidade com as publicações, o que os obriga a trabalhar nesses projetos apenas nas horas livres. Com um trabalho árduo para ler e selecionar as centenas de textos que recebem para publicação, além das inúmeras sugestões de pautas trazidas pelos leitores que precisam ser avaliadas e encaixadas de alguma maneira. Cenário que comprova a existência de escritores querendo publicar e leitores querendo consumir esse tipo de publicação. Mas, com pouco ou nenhum incentivo para manter esses veículos funcionando a todo vapor. Os editores realizam um trabalho admirável, movido por paixão e crença no poder da literatura, mas que infelizmente está restrito à capacidade de suas iniciativas individuais. O que obviamente limita as possibilidades de crescimento do alcance dessas revistas, que reúnem e divulgam com esmero a cena literária aqui no Rio Grande do Sul. Um cenário em potencial que vale acompanhar! Sobre eventos e revistas literárias Neste domingo à tarde e ensolarado em que passeei entre essas atividades, fiquei refletindo sobre o quão importante é termos um evento como esse na nossa região, aberto ao público de forma gratuita e com conteúdos interessantes e de qualidade. Entretanto, senti que a audiência estava pequena. Não sei se porque escolhi painéis muito nichados, ou porque estava frio, quem sabe por ser um domingo? Acompanhei as redes sociais do evento pelos demais dias e o cenário não me pareceu muito diferente, salvo em dias em que havia na programação personalidades mais conhecidas, o que naturalmente atraiu um público maior. Coincidência ou não, dias depois do evento, assisti ao programa de literatura, Entrelinhas da TV Cultura, conduzido pelo Manuel da Costa Pinto, que levou ao ar um episódio entrevistando editores de revistas literárias . O papo foi com Fernanda Paola da Revista Cult, Paulo Werneck da Quatro Cinco Um, Rogério Pereira do Jornal Rascunho e Schneider Carpeggiani do Suplemento Pernambuco (o qual eu tive o prazer de conhecer através da oficina de resenhas que ele conduziu pela Escrevedeira). Periódicos que nasceram para atuar no nicho literário e cultural, divulgando conteúdos que cada vez mais perdem espaço em grandes jornais e canais de televisão. Foi impossível não lembrar dos três editores que assisti na FiliGram, que a muito custo e nenhum retorno financeiro, mantêm no ar publicações literárias. Enquanto as revistas literárias da reportagem, que possuem recursos financeiros e equipes maiores trabalhando em sua produção e distribuição, tiveram condições para encontrar um público fiel e um espaço interessante no mercado nacional. As publicações independentes ficam marginalizadas, tentando ganhar espaço de forma orgânica, competindo a atenção do público com grandes veículos. Não sou de forma nenhuma crítica aos grandes veículos de literatura, acredito que há espaço para todos e cada um cumpre seu papel de disseminar a importância da literatura. Entretanto, ao refletir que, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, a quantidade de leitores no Brasil não aumenta há pelo menos 20 anos (desde que a pesquisa é aplicada o percentual de leitores não sai da média dos 50%), concluo que grandes e pequenos veículos estão disputando a atenção do mesmo público. E, por óbvio, veículos maiores terão maior alcance. Portanto, caberia a nós leitores, realizar ativamente o esforço de buscar veículos alternativos de literatura. Nos aproximando do nosso entorno e apoiando, também quem está aí no corre. Nesse fluxo recordei outro papo sobre a cobertura jornalística literária que assisti, na Bienal do Livro de São Paulo esse ano, com os colunistas de literatura Ruan S. Gabriel do jornal O Globo e Maria Fernanda Rodrigues do jornal Estadão. Ambos comentam sobre a importância do tema livro estar em grandes veículos, porém, suas colunas sobre literatura não são as mais lidas. Logo, a literatura disputa constantemente a atenção e espaço na pauta da redação com outros temas que geram mais cliques e engajamento do público. Reforçando assim, ser necessária a participação leitor para manter a literatura em grandes publicações como as que eles trabalham. Por isso pergunto, você leitor, amante dos livros, gosta de acompanhar periódicos sobre literatura? Conhece as publicações da sua região? Vocês frequentam eventos literários? Para manter esses veículos e eventos são necessários recursos financeiros (sejam públicos ou privados) mas também investimento do tempo do leitor para acompanhar, engajar e prestigiar tais iniciativas. Só assim elas se manterão vivas e interessantes, tanto para o público quanto para o mercado. Em todo caso, é fundamental reconhecer que, independente do tamanho, revistas e eventos literários existem como forma de resistência. Afinal, manter publicações ou lançar eventos como a FiliGram, específicos sobre literatura, em um país que alguns insistem em afirmar não ser de leitores, é de fato resistir. O livro e a literatura precisam ganhar espaço, estar mais acessível e próxima do público geral. E isso é possível, dentre outras iniciativas, através de eventos e publicações dedicadas à literatura. Se você leu até aqui, quem sabe não se inspira e dedica um tempo para conhecer as publicações que citei aqui? Vamos juntos fortalecer e manter vivos canais de literatura! Aproveito e cito aqui o meu projeto: Raízes | Site de Conteúdo Literário, será um prazer te ver por lá também! Como você se relaciona com a literatura? Faz sentido pra ti? Vamos trocar opiniões aqui nos comentários! Obrigada por ler, se você gostou compartilhe com seus amigos. Sigo tentando liberar um texto novo todo mês. Se quiser, envie sugestões de pautas para os próximos meses.

  • Qual espaço o trabalho ocupa na sua vida?

    Reflexões sobre equilíbrio no trabalho, a partir da leitura do livro: Primeiro eu tive que morrer, de Lorena Portela. Qual espaço o trabalho ocupa na sua vida? | Reflexões sobre equilíbrio no trabalho Recentemente li o livro de estreia da escritora Lorena Portela "Primeiro eu tive que morrer" e o impacto foi enorme. Vou trazer aqui, pequenos trechos do livro que contextualizam bem a realidade da protagonista e eles servirão de base para reflexão que proponho sobre equilíbrio no trabalho. A protagonista da história é uma jovem publicitária, que até seus 30 anos construiu uma carreira de sucesso, com prêmios e reconhecimento. Entretanto, isso lhe custou o abandono da sua qualidade de vida, relações saudáveis, convivência com família e amigos, saúde física e mental. Durante anos ela priorizou o trabalho, se dedicando incondicionalmente, com a ambição de ser reconhecida e o desejo de que um dia se sentiria realizada. Mas quando tudo é feito em excesso a motivação some e tudo fica mais custoso… "Quando o volume de trabalho aumentava, eu me entregava. [...] Em alguns momentos, eu me animei, achando que poderia ganhar essa briga. Depois de um tempo, eu não estava mais preocupada em ganhar briga nenhuma, eu só não queria desistir". "Ser boa numa coisa e passar a ganhar um salário decente com isso roubou a minha noção de felicidade. Eu passei a me acomodar com aquilo porque era o que eu sabia fazer". Nesse contexto os limites saudáveis foram quebrados e ela só conseguia enxergar o trabalho que precisava ser feito. Mas não se engane, não se tratava de uma viciada em trabalho, não. Foram a soma dos pequenos excessos que a fizeram chegar no seu limite. Pequenas atitudes que no momento pareciam inofensivas, situações isoladas… "Para não desistir, eu trabalhava doente, com cólicas delirantes [...], com problemas graves na família, com dor de barriga, com relacionamento fodido. Já havia chorado no banheiro, já havia vomitado de nervoso…". E assim, ao longo de meses de descuido com si mesma, a conta chegou. Não que ela tenha se dado conta, mas porque pessoas queridas a alertaram e se mobilizaram para fazê-la parar: "Até que, certo dia, chegou a mim a notícia de que precisava de uma pausa. [...] A sugestão, na verdade, veio da Denise, minha amiga terapeuta, e de meia dúzia de outras amigas preocupadas com os meus aparentes cansaços físico e mental, com meu distanciamento por conta do trabalho, com minhas olheiras e perda de peso". De início ela não aceita, não entende. Depois, até concorda que possa ser bom dar um tempo. Mas, a partir do momento que consegue negociar um período de afastamento do trabalho para cuidar da saúde, já se sente culpada. Por consequência passa a trabalhar ainda mais, para adiantar tudo que pode antes de sair, causando o menor impacto possível (para a empresa claro): "Eu só conseguia pensar na avalanche de trabalho que chegava à minha mesa e na minha obrigação de fazer tudo, de trabalhar dobrado, de ultrapassar meu limite porque, enfim, meu chefe tinha sido generoso o suficiente para me dar longos dias de 'recesso'". Engraçado, muito parecido com o período pré-férias de muitos profissionais, né? Enfim, a história se desenrola até que ela finalmente consegue sair para o recesso, completamente esgotada. E o balanço desse momento é esse aqui: "Aos 30 anos, eu teria outra "estreia" importante: a primeira vez que eu ficaria sem fazer nada porque meu corpo não suportava. Três décadas de vida e eu já tinha judiado de mim o bastante para ter que parar. Ou morrer". A partir daí uma narrativa linda de autoconhecimento e recomeço acontece, que você vai ter que ler o livro pra conhecer 😊😉 Mas, o que quero abordar aqui é o que fez a protagonista chegar ao esgotamento: ela vivia para o trabalho. Exercer a profissão ganhou uma proporção tão grande na vida dela que nada era mais importante. Qual espaço o trabalho ocupa na sua vida? Motivada pelo desejo de sucesso, em que quem faz mais é quem ganha o status (será?). O objetivo era sempre crescer, ganhar prêmios, ser a melhor… mas por que mesmo? Ao chegar num marco traçado, automaticamente outro mais a frente era criado e a corrida continuava incessante, sem tempo e energia para pelo menos comemorar a conquista. Colocando o trabalho como a principal realização sempre. Seja por exigências externas de dedicação e comprometimento ou pela falácia do alto rendimento em que é possível fazer tudo, o tempo todo, para todo mundo. Ela se sentia tão responsável por suas atividades, que tinha a crença de que se ela não as fizesse, ninguém mais ia fazer e se não fosse feito, certamente o mundo iria acabar. O tal senso de dono aflorava o sentimento genuíno de comprometimento, como se aquela tarefa só dependesse dela. Quem nunca? Entendo ser nessas situações, que profissionais super dedicados, se entregam e vão além do limite daquilo que é de fato sua responsabilidade, como também, dos seus limites físicos e emocionais. Sendo que na maioria das vezes isso não é nem reconhecido como deveria, ou seja, financeiramente. Em alguns casos o que chega é o tapinha nas costas e o tal do salário emocional, que pode ser muito legal, mas que não pagam boletos. Portanto, quando falamos de equilíbrio no trabalho, é fundamental falarmos sobre o tamanho que o trabalho ocupa nas nossas vidas. Porque às vezes ele ocupa um espaço tão grande, a ponto de qualquer outro interesse ser abandonado pela falta de tempo e energia. Lógico que temos que trabalhar e que ótimo, que algumas pessoas têm o privilégio de trabalhar com o que gosta em um ambiente bacana. Mas, trabalhar não é tudo que podemos fazer na vida e não é – ou não deveria ser – o nosso volume de trabalho que determina o nosso valor. Como e por que colocamos, tão facilmente, o trabalho em primeiro lugar? "Ah, porque tenho que pagar contas e não posso perder meu emprego", talvez você pense. Mas, sinto em dizer que até mesmo diante da maior dificuldade, o excesso de trabalho, aquele que te esgota e adoece, não compensa. Afinal, você não é uma máquina, seu corpo sente e em algum momento vai reclamar. E aí, ao invés de pequenas pausas, pode ser que você tenha que parar de vez. Eventualmente imprevistos acontecem e pode, sim, ser necessário e fazer sentido uma dedicação extra. Também compreendo e concordo que se comprometer com um trabalho ou projeto, alinhado com nossos objetivos e ambição de crescimento, faz naturalmente nos dedicarmos um pouco a mais. Afinal acreditamos e temos objetivos a alcançar com ele. Mas, o que trato aqui é de uma dedicação exagerada. Aquela que faz você trabalhar todos os dias até mais tarde, trabalhar nos finais de semana e feriados, atender telefone nas férias, sem ganhar nada a mais por isso e/ou sem o deslumbre de uma oportunidade de crescimento. Quem nunca se viu diante de afirmativas como essas? "Só vou sair e encontrar os amigos se der pra sair no horário do trabalho". "Só vou viajar no final de semana, se não precisar trabalhar". "Só vou fazer meu exercício se não precisar chegar mais cedo no trabalho". "Só vou almoçar naquele restaurante legal se a reunião não se estender". Vivemos em um mundo de produtividade constante onde o rendimento determina quão bom somos. Tanto, que quando o tema de autocuidado e saúde mental chegou às empresas – por conta de muitas pessoas exaustas, ansiosas e doentes por excesso de trabalho – foi motivado pela produtividade: descanse, durma bem, faça exercício, pois assim você vai render mais no trabalho. Dentre essas armadilhas, em que o lazer e a descompressão foram descobertos como combustíveis para a produção, videogames, pets e geladeiras com cerveja foram parar dentro do escritório. Talvez para manter os colaboradores mais tempo lá (?!). Quando, na verdade, o que importa é a qualidade do tempo dedicado ao trabalho e a vida pessoal. Se no tempo em que estiver no trabalho cada um realmente focar em realizar suas atividades, de maneira organizada e dedicada, provavelmente não precisará ficar até mais tarde nem chegar mais cedo. Cumprir tarefas e prazos de maneira satisfatória para o profissional e para a empresa, não dependem de sacrificar feriados e finais de semana. Agora, se sempre falta tempo para realizar as atividades, talvez o volume de trabalho seja desproporcional à capacidade de entrega. E aí estamos falando de um problema corporativo, que com certeza não será resolvido se o "profissional dedicado" continuar a fazer o impossível para dar conta do excesso de tarefas. Ninguém é menos responsável, capaz ou profissional por impor limites saudáveis e justos entre tempo para o profissional e tempo para o pessoal. Pelo contrário, cada um tem uma vida e interesses que também precisam de tempo e energia para serem experienciados. Ser um bom profissional não significa viver na empresa nem viver para a empresa. E o ideal seria não esperar precisar parar para então, tomar a iniciativa de criar seus limites. Repensar a rotina, encaixar momentos de lazer, de encontros com família e amigos, ficar mais consigo e desenvolver um passatempo. São pequenas atitudes que podem contribuir muito com seu bem-estar, saúde mental e trará outras realizações e prazeres para sua vida. Tirando o injusto peso colocado no trabalho de trazer toda a realização que você precisa. Faz sentido pra ti? Vamos trocar opiniões aqui nos comentários! Obrigada por ler, se você gostou compartilhe com seus amigos. Sigo tentando liberar um texto novo todo mês. Se quiser, envie sugestões de pautas para os próximos meses.

  • Recomeçar não significa "jogar tudo fora"

    Aprendizados que ficam, independente do lugar em que estamos. Recomeçar não significa "jogar tudo fora" | Aprendizados que ficam, independente do lugar em que estamos. Um dos sentimentos mais recorrentes num processo de transição de carreira é o de estar jogando fora tudo que construímos profissionalmente, até aquele momento. Como se todos os aprendizados adquiridos não servissem mais para nada e nos tornássemos uma folha em branco, pra aprender tudo do zero. Mas isso não é uma verdade. Inclusive, essa crença me parece mais um obstáculo que inventamos para atrasar a tomada de decisão. Afinal, mudar não é nada fácil. Diversos sentimentos se misturam: medo, insegurança, a crítica daqueles que não entendem porque você está fazendo isso. E a frase mais ouvida, dos outros e de nós mesmos, é "Você vai se arrepender!". Entretanto, nem todo mundo acredita que sucesso é sinônimo de cargo, posição e dinheiro. Há quem tenha outras prioridades e trabalhe para viver, ao invés de viver para trabalhar. Portanto, mudar pode ser tão bom quanto seguir onde se está, desde que haja propósito e clareza sobre o que se quer. E optando pela mudança, a certeza de que carregamos conosco tudo que aprendemos até ali é fundamental. Recentemente escrevi um texto sobre a falsa ideia de que precisamos usar nosso tempo somente com atividades úteis. Como se toda ação tivesse que atingir um objetivo, retirando de nós as oportunidades de puro lazer, ócio e desenvolvimento da curiosidade livre. (Texto escrito com base nas leituras de A utilidade do inútil, de Nuccio Ordine e A vida não é útil, de Ailton Krenak, você pode ler aqui). E no mesmo sentido, afirmo: mesmo que algumas habilidades e experiências de trabalho não sejam diretamente úteis em nossa nova profissão, de alguma forma ainda contribuem para sermos o profissional que somos. Segundo o conceito de polímata (explicado mais profundamente nesse artigo do Michael Simmons e traduzido pela Clara Cecchini), há um valor estratégico no profissional que domina mais de um tema, ao invés de ser especialista em um só. Os chamados profissionais polímatas seriam mais preparados, por ter um repertório amplo e conseguir combinar diferentes habilidades em prol de suas carreiras. Seja pelo aprendizado intencional de diferentes temas ou através de experiências diversas, como um passatempo diferente do contexto da nossa profissão. Como um economista pode desenvolver a sociabilidade com aulas livres de teatro; um professor, pode exercitar a paciência pelo cultivo de plantas. Não há regra sobre como e o que é válido aprender, porque tudo que aprendemos é válido. Recomeçar não significa "jogar tudo fora" Eu mesma, comecei a trabalhar muito jovem na área de produção de calçados numa pequena empresa familiar. Quando saí de lá, pro meu primeiro emprego "fora" como secretária, nem tudo que eu sabia era aplicável, por motivos óbvios. Mas, eu já tinha uma postura profissional, sabia trabalhar em equipe e uma visão holística de processos. Pode parecer pouco ou até generalista, mas ter essa base ajudou a me destacar nessa primeira experiência. Depois disso, tive duas vivências na área comercial e ambas contribuíram para o desenvolvimento da minha comunicação, como também me ensinaram sobre planejamento e estratégia. Anos passaram até minha primeira e tão esperada oportunidade na área de marketing. Na época, eu era apenas uma estudante de Publicidade e Propaganda, o frio na barriga era grande, tinha muito que aprender. Mas graças aos meus aprendizados anteriores me senti preparada para iniciar na nova área. E deu tudo certo! Passei 9 anos atuando no marketing de diferentes empresas e segmentos. E apesar de me manter na mesma área, a cada nova experiência precisei me adequar e estudar coisas novas. Aprendi muito, tive a oportunidade de ensinar, sempre com o foco em acumular repertório. Há alguns meses, após uma pausa e um profundo processo de autoconhecimento, me (re) encontrei na escrita. E por conta disso, atualmente, vivo mais um processo de transição: do marketing para a escrita. Ao escolher focar nela como profissão, começo uma nova caminhada. Mas com a certeza de que levo comigo uma ampla bagagem na área da comunicação, com competências bastante pertinentes para o meu novo contexto. Pois, mesmo que mudar de carreira signifique trilhar um novo caminho, não deixei pra trás nada do que já fiz, vivi e aprendi. Está tudo aqui dentro e é esse conjunto que forma não só a profissional, mas a pessoa que sou. Aprendizados que ficam, independente do lugar em que estamos. Acredito que uma caminhada de mudanças não nos faz mais fraco ou um "especialista em coisa nenhuma". Mas, sim, um profissional diferenciado, com capacidade de adaptação e um baita repertório. Por isso, se existe a vontade de mudar, não deixe que essa sensação de estar "jogando tudo fora" paralise você. Já dizia Darwin: “Não são os mais fortes ou os mais inteligentes que sobrevivem, mas aqueles que podem gerenciar melhor a mudança". E esse gerenciamento é, sim, mais fácil quando você toma consciência das suas diferentes habilidades e passa a usá-las a seu favor. Faz sentido pra ti? Vamos trocar opiniões aqui nos comentários! Obrigada por ler, se você gostou compartilhe com seus amigos. Sigo tentando liberar um texto novo todo mês. Se quiser, envie sugestões de pautas para os próximos meses.

  • Por que escrevo? Porque ler é revolucionário!

    A leitura como motivação para a escrita. Por que escrevo? Porque ler é revolucionário! | A leitura como motivação para a escrita. Escrever é deixar registrado. A cada texto publicado, acumulam-se provas sobre o que pensamos, conhecemos, acreditamos. Recentemente vi uma entrevista da escritora espanhola Irene Vallejo Mora, em que ela compartilha sua experiência de pesquisa sobre a história dos livros no mundo. Para ela, o registro escrito permite conhecermos as ideias de pensadores de diferentes épocas e regiões, como uma verdadeira viagem no tempo. Então esse seria o poder dos livros: preservar e conduzir mensagens ao longo do tempo. Ler, nos permite tomar conhecimento desses escritos. Com autonomia conhecer nossa história. Construir uma visão ampla dos fatos, desenvolver senso crítico, empatia e compreender nosso lugar no mundo, colaborando também com uma formação cidadã. A leitura, portanto, pode ser mais fundamental do que se imagina ou temos noção no dia a dia. E não me refiro só a ler livros, mas também jornais, revistas, as placas de sinalização, bulas de remédio, os avisos diversos ao longo da estrada. São tantos os escritos que norteiam nossa existência, que paramos de notá-los. Mas, você já imaginou como seria sua vida se não soubesse ler? Quanta coisa você teria de deixar de fazer? Segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua sobre Educação, realizada em 2019 pelo IBGE, temos 11 milhões de brasileiros analfabetos. Não bastasse isso, segundo o último Indicador de Alfabetismo no Brasil (Inaf), de 2018, 29% da população pode ser considerada analfabeta funcional, isto é: não consegue compreender o que lê. Temos, portanto, uma importante parte da população totalmente dependente de orientações de terceiros, suscetíveis a enganos e/ou manipulações. Fato que também retira delas a oportunidade de qualquer trabalho que não seja o braçal, estando passíveis de exploração, extorsão ou outros abusos. Pensar nessa realidade me atinge profundamente e percebo o quão urgente é trazer temas como esse para a pauta. Eu acredito demais na educação, no poder que ela tem de transformar indivíduos e sociedade. Para além da educação formal, mas principalmente na aprendizagem livre, autônoma e curiosa. Da mesma forma acredito no poder da cultura. Quanta coisa aprendemos sobre diferentes países, sociedades, realidades, indivíduos ao ler um livro ou ver um filme. O que muda em nós pela emoção de um show, os mistérios de uma exposição, o encantamento com uma encenação ao vivo no teatro. Quanto tudo nos permite acumular repertório, mesmo sem ter vivido na pele essas histórias. Ter acesso à educação e à cultura é um direito de todos, mas temos visto ao longo dos anos, que em nosso país se trata de privilégio. O incentivo e garantia à educação e a cultura tem sido precarizada há muito tempo e fico pensando sobre as razões por trás desse cenário. Para mim, a sábia síntese do poeta Mario Quintana é bastante esclarecedora: “Os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”. E mesmo não sendo da vontade de poucos poderosos, sei que há muitas pessoas que acreditam na educação, no acesso à leitura e a cultura como meios de transformar essa realidade. Por que escrevo? Porque ler é revolucionário! Quando eu decidi me dedicar à escrita, é sobre isso que penso: transformação. Primeiro a pessoal, mudar de carreira, de objetivos profissionais e propósito. Depois, sobre como quero contribuir, como usar de forma mais proveitosa meu tempo de dedicação e trabalho. Assim, de forma independente, comecei a escrever sobre cultura, em especial literatura. Ao compartilhar, de forma singela, minhas experiências com a literatura, consigo trazer para conversa temas como diversidade de gênero e raça, condição da mulher e questões políticas e sociais. Meu interesse por temas que permeiam esse universo, como o cenário de leitores no Brasil, políticas públicas de incentivo e acesso ao livro, me instiga a pesquisar, a entender certos problemas mais a fundo. No fim, tudo vira artigo. E assim nasceu o Raízes, meu blog de literatura, onde crio correlações entre leituras e a realidade, a fim de chamar atenção para determinados temas. Alimentar o Raízes não muda o cenário da educação ou analfabetismo no Brasil, mas pode iluminar questões, gerar novos debates, a partir de outras perspectivas. Além disso, ter uma rotina de leitura, pesquisa, escrita e publicação colabora com minha evolução profissional. Tornando o Raízes também um laboratório particular, que me conduz a um processo de autoconhecimento e experimentações. Minha escrita é assim, cheia de (boa) intenção. Acredito no potencial de conexão através da leitura; na força de escrever sobre aquilo que acredito e ver isso reverberar; no encontro de pessoas e ideias em torno de algum tema em comum; e principalmente, no potencial de pequenas revoluções. Eu escrevo como forma de registrar e incentivar aquilo que acredito. Eu escrevo porque sei que ler é revolucionário! "Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda." Paulo Freire Faz sentido pra ti? Vamos trocar opiniões aqui nos comentários! Obrigada por ler, se você gostou compartilhe com seus amigos. Sigo tentando liberar um texto novo todo mês. Se quiser, envie sugestões de pautas para os próximos meses.

  • Enquanto leio, penso nos que não podem ler

    Reflexões sobre a importância e a falta de acesso à leitura. Enquanto leio, penso nos que não podem ler: Reflexões sobre a importância e a falta de acesso à leitura. É consenso, dentre os que leem, o quanto esse hábito é importante. Listamos com facilidade os benefícios e prazeres que uma boa leitura traz. Contudo, parte significativa da população brasileira não lê, nem tem acesso a livros. Cenário que certamente contribui para aprofundar a desigualdade social e cultural que vivenciamos. É um sonho, quiçá utopia, imaginar um dia esse brasilzão garantindo educação e acesso à cultura para todos os seus cidadãos. Para isso, é necessário mudar a realidade e nós, defensores dos livros e da leitura, podemos colaborar de maneira significativa para essa transformação. Segundo o sociólogo Jessé Souza, são os capitais culturais e econômicos os elementos estruturantes da hierarquia social moderna. Eles permitem, a quem tem condições de acumulá-los, sua permanência em classes mais altas; além de alimentar seus esforços - conscientes ou inconscientes - para se manter nessa posição com todos os privilégios. Logo, pensar em quanto a educação poderia reduzir a profunda desigualdade social que historicamente construímos, exige também pensar nos atores capazes de contribuir para tal mudança. Seriam justamente os que acreditam na potência de ler, os privilegiados capazes de intervir, vigiar e motivar ações de incentivo à leitura e acesso ao livro. Mas por que a leitura teria tanto impacto na redução da desigualdade social? A leitura impulsiona a inclusão cultural, promovendo o contato com diferentes artes, como música, teatro e exposições. Sendo ela, portanto, o primeiro passo para o desenvolvimento intelectual do indivíduo, expandindo sua visão de mundo e compreensão da sua posição social. (Eliana Yunes, filósofa e professora) Com as leituras de ficção podemos construir ideias sobre o agir, o sentir e o pensar do outro e transferir essas ideias para a realidade, conforme afirma o psicólogo e escritor Keith Oatley. Contribuindo, portanto, para o desenvolvimento da empatia. Além disso, o hábito de ler beneficia o cérebro, a cognição e a memória. Possibilita a construção do pensamento crítico e da autonomia. Permitindo que o indivíduo questione, se posicione, tome decisões e atue socialmente a partir de suas próprias ideias. Por isso, que enquanto leio penso nos que não podem ler. Pois, a despeito de toda defesa a seu favor, fato é que ler não está na rotina de milhares de brasileiros. Seja por a) falta de acesso a livros, b) por falta de incentivo ou c) por falta de condições, tempo e energia para a leitura. Sobre falta de condições, tempo e energia para a leitura Facilmente esquecemos de considerar tudo que precisa estar funcionando para que a leitura flua, principalmente se nada disso costuma nos faltar. Comecemos pela condição mais básica para a leitura: o saber ler. No Brasil, o alto índice de analfabetismo funcional torna a prática da leitura de textos longos improdutiva. De acordo com o último Indicador de Alfabetismo no Brasil (Inaf), de 2018, 29% da população é analfabeta funcional, não consegue compreender o que lê. Depois, consideremos questões estruturais: estar alimentado, ter uma boa iluminação, estar confortável em um ambiente calmo ou minimamente silencioso, ter algum tempo sobrando para a folga e o lazer. Contexto inexistente para grande parte da população. Por fim, precisamos reconhecer que a leitura exige concentração, foco e é por isso que muitas vezes ela perde para entretenimentos mais acessíveis, como assistir tv ou ouvir música. Primeiro porque muitas vezes dá para fazê-los enquanto se executa outra tarefa doméstica ou o próprio trabalho – a famosa otimização do tempo; segundo, porque num primeiro contato ler um livro pode parecer uma tarefa difícil, extensa e desafiadora. E assim, diante de tantas dificuldades disfarçadas de exigências, ler se torna tão distante que, em muitos, nem dá vontade de começar. Sobre a falta de incentivo Outro fator relevante é a falta de familiaridade com o livro e a leitura. Seja por um ambiente familiar sem exemplos, ou então pela precariedade do ambiente escolar que teve acesso e pôde frequentar. À imensa diversidade de estruturas familiares, nos mostram que nem toda casa tem alguém para incentivar os primeiros passos da leitura. Seja pela falta de hábito dos adultos responsáveis, ou pela falta de condições financeiras, educacionais ou culturais. Fazendo com que crianças e jovens dependam do ambiente escolar para conhecer a leitura. No entanto, sabemos que a qualidade da educação não é a mesma para todos. Em muitos casos ela é precária, com escolas sem livros, bibliotecas, mediadores de leitura. Até hoje, ano 2022 do século XXI, temos escolas públicas no país sem biblioteca. Mesmo a tardia legislação (Lei 12.244/10), criada em 2010, que determinava o prazo de até maio de 2020 para que todas as escolas brasileiras – públicas e privadas – tivessem uma biblioteca, não conseguiu mudar esse cenário. O prazo de cumprimento dessa lei, durante a pandemia, foi estendido em dois anos. Chegamos em 2022 e há em tramitação um projeto de alterações na lei, incluindo (pasmem?!) uma nova prorrogação de prazo. Não bastasse o déficit já existente, nos últimos anos o país viu diversas bibliotecas públicas precisando fechar devido à falta de recursos. Contexto que impossibilita que professores despertem o interesse de crianças e jovens pela leitura. Sobre a falta de acesso a livros Acontece nas escolas, acontece nas cidades. Atualmente, conforme o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), o Brasil conta com 5.293 bibliotecas públicas (dado de 2021). O que, pela lógica matemática, não dá pelo menos uma biblioteca pública para cada um dos 5.570 municípios brasileiros. Sendo assim, pelo menos 277 municípios estariam sem um espaço público, que possibilite o acesso a livro, leitura e demais atividades culturais. Porém, considerando que algumas cidades possuem mais do que uma biblioteca pública, concluo que o número de cidades sem esse espaço é bem maior. Para Eliana Yunes, bibliotecas públicas e comunitárias são fundamentais na promoção de atividades que divulguem e incentivem a leitura em um ambiente propício. E eu concordo, meu primeiro contato com livros foi em bibliotecas escolares, inicialmente no ensino fundamental e médio, depois na graduação. Eu não tinha muitos livros em casa, tampouco na adolescência podia comprar livros. Portanto, esses espaços foram fundamentais para minha aproximação com livros e desenvolvimento do hábito de ler. Ler é um direito de todo cidadão e garantir o acesso aos livros possibilita experienciar a leitura, seus benefícios e possibilidades de desenvolvimento pessoal. Não garantir esse acesso é negar a possibilidade de escolha sobre o querer ler e o contato com outras formas de cultura. Considerando tais razões para o distanciamento da maioria dos brasileiros com os livros e a leitura, fica evidente o quão amplos são os desafios de incentivo. Afinal, não basta dar livros e ensinar a ler, é preciso olhar com atenção para questões fundamentais que propiciem um ambiente favorável para o despertar literário. Então, afinal, o que podemos fazer? Diante de tanta complexidade, quero me ater a ações possíveis que possam contribuir para a transformação desse cenário. Acredito ser preciso um esforço coletivo a favor de quem ainda não tem condições de cobrar por seus direitos ou não teve a oportunidade de acesso à educação e livros como nós. Olhemos primeiro para as políticas públicas acerca do tema. Cito aqui as duas que considero principais, por ainda estarem vigentes e por sua abrangência. Mas, existem ou existiram outras, espero despertar seu interesse de pesquisar mais sobre elas. Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) - 2006 Construído em conjunto por diversos especialistas no tema e profissionais da cultura, educação e cadeia produtiva do livro, atua em quatro eixos: 1 – Democratização do acesso 2 – Fomento à leitura e à formação de mediadores 3 – Valorização institucional da leitura e incremento de seu valor simbólico 4 – Desenvolvimento da economia do livro Acesse o plano aqui. Lei 13.696/18 Política Nacional de Leitura e Escrita Aprovada em 2018, a Lei pretende: – a universalização do direito ao acesso ao livro, à leitura, à escrita, à literatura e às bibliotecas; – o reconhecimento da leitura e da escrita como um direito; – o fortalecimento do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas; – a articulação com as demais políticas de estímulo à leitura, ao conhecimento, às tecnologias e ao desenvolvimento educacional, cultural e social do País, especialmente com a Política Nacional do Livro, instituída pela Lei 10.753/03; – o reconhecimento das cadeias criativa, produtiva, distributiva e mediadora do livro. Confira a lei na íntegra aqui. Vendo como essas legislações ficam bonitas no papel, o sonho de formar novos leitores parece estar caminhando para a realidade. Porém, o fato é outro: a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, mostra que o percentual de leitores brasileiros se mantém na média de 50%, desde 2001, quando começou a ser aplicada. O fracasso dessas ações pode ser atribuído a execução de forma inconstante e desestruturada, sempre à mercê dos interesses de cada ciclo de governantes. Causando pequenos avanços e retrocessos, fazendo parecer, num balanço, que não conseguimos sair do lugar. Portanto, tornar essas legislações conhecidas dentro da comunidade – ou bolha –, que acredita no poder dos livros, contribui para um esforço ativo na vigilância quanto à sua execução. E fiscalizar a execução de ações sociais e afirmativas pode estimular a responsabilidade cidadã dos mais privilegiados. Compreendido nosso papel na esfera governamental, partimos para ações independentes. Cito aqui ideias que podem despertar seu interesse em aprofundar no assunto e quem sabe agir em benefício da causa: Pesquisar se há alguma biblioteca pública ou comunitária em sua cidade e contribuir com ela, seja na divulgação, com doações ou até mesmo sendo um mediador de leitura voluntário. Prestigiar e divulgar ações independentes de incentivo à leitura e acesso ao livro, como forma de apoio para essa mensagem chegar mais longe. Compartilhar em seus círculos sociais – seja presencialmente ou com o apoio do digital – suas experiências de leitura, dar dicas de livros ou algum conteúdo literário que possa provocar a curiosidade de não leitores. Se você participa de algum clube do livro ou leitura conjunta, que tal convidar pessoas novas para participar? Às vezes basta um convite entusiasmado para o nascimento de um novo leitor. Dentro da sua possibilidade acompanhe as notícias e debates sobre as legislações acerca do livro e do mercado editorial. Pois, para nos posicionarmos precisamos antes estar bem informados. Vivemos em um país continental, com uma imensa diversidade de realidades. Ter acesso à cultura e educação não é um luxo, nem um privilégio, mas um DIREITO DE TODOS. E enquanto cidadã e cidadãos que somos, podemos cobrar por essa garantia, bem como agir, dentro das possibilidades de cada um, a favor dessa causa. Texto publicado originalmente no Medium. Faz sentido pra ti? Vamos trocar opiniões aqui nos comentários! Obrigada por ler, se você gostou compartilhe com seus amigos. Sigo tentando liberar um texto novo todo mês. Se quiser, envie sugestões de pautas para os próximos meses.

  • Transição de carreira é uma caminhada. Iniciar em um novo modelo de trabalho, é outra.

    Cinco aprendizados, resiliência e otimismo na jornada autônoma. Transição de carreira é uma caminhada. Iniciar em um novo modelo de trabalho, é outra. A transição de carreira pode significar mudar sua área de atuação como também, mudar o seu modelo de trabalho: do CLT pro autônomo, por exemplo. Em muitos casos, inclusive no meu, as duas mudanças acontecem juntas. Quando mudar é uma opção, a carreira autônoma pode ser um caminho para profissionais que buscam atuar alinhados com seu próprio propósito, com mais flexibilidade e autonomia da sua rotina e atividades. Contudo, mesmo tomando essa decisão de forma bastante consciente, é preciso admitir que a caminhada é longa e cheia de desafios — como em qualquer carreira. E por isso nesse texto, resolvi compartilhar cinco aprendizados sobre o processo de migração para o trabalho independente, autônomo, freelancer ou como queira chamar. Talvez eles sejam úteis para quem também está vivendo esse processo ou planeja fazer essa mudança. 1. Quando a mudança não é só do modelo de trabalho, mas também da área de atuação Além de prospectar trabalhos no novo formato (autônomo/freelancer), você também precisará se posicionar em sua nova função. Fundamental construir essa nova imagem e autoridade na nova função, para isso indico uma boa estratégia de conteúdo para as redes sociais (principalmente LinkedIn). Mostre preparo e competência para desempenhar a nova função, considerando que todas as experiências e formações anteriores não serão desperdiçadas. Lembre-se: Recomeçar não significa jogar tudo fora. 2. Você precisa obrigatoriamente montar portfólio Parece básico, ou até óbvio, mas nem sempre é feito. Principalmente quem sempre trabalhou CLT e se acostumou a ter só o currículo e/ou perfil do LinkedIn atualizado. No trabalho autônomo um portfólio é fundamental! Reúna os trabalhos e experiências que sejam relacionados às oportunidades que você busca (ou as com maior proximidade) e divulgue como referências em suas prospecções. 3. Permaneça em movimento e em contato com pessoas Acredito ser fundamental nos mantermos em movimento para as oportunidades começarem a surgir. Se não estão surgindo propostas de trabalho, criar um projeto pessoal, fazer trabalho voluntário, fazer cursos e oficinas, etc., são alternativas para ficar em contato com pessoas da sua área de interesse. Focar todo tempo e energia em prospectar e fechar trabalhos, pode impedir de enxergar outros locais e formas onde mostrar seu trabalho. 4. Conte pro mundo que você está atuando nesse formato Não basta atualizar o LinkedIn. Contar para amigos, familiares, vizinhos, nos ambientes que frequenta com frequência também é importante. Alguém, em algum lugar, pode estar procurando um profissional como você e pessoas próximas podem te indicar. Cuide com carinho de suas redes sociais, até mesmo as pessoais, nesse contexto uma oportunidade pode chegar por qualquer canal. 5. Por mais que você tenha bastante experiência e contatos, o processo é lento Paciência e resiliência são as palavras de ordem. É necessário tempo para o novo posicionamento ser feito, que seu trabalho seja reconhecido. Na posição de prestador de serviço também é constante o processo de prospecção e envio de propostas. E sempre, haverão recusas, faz parte, por isso a etapa de planejamento financeiro, antes da migração, é fundamental. Pois te dará mais segurança e tranquilidade até as coisas engrenarem. E, dentro do que for possível na sua realidade, valorize seu trabalho, seu tempo e sua experiência. Oferecer seu trabalho a qualquer preço, a qualquer prazo, além de não ser sustentável a longo prazo, ainda prejudica o mercado de toda uma categoria. Como em qualquer processo de mudança, haverão desafios, parte boa e ruim. Mas, nada que não possa ser superado. Aproveitar o processo, descobrir o caminho e crescer com os aprendizados também fazem parte da meta. Seguimos! E por aí, como está essa jornada de #transiçãodecarreira? Faz sentido pra ti? Vamos trocar opiniões aqui nos comentários! Obrigada por ler, se você gostou compartilhe com seus amigos. Sigo tentando liberar um texto novo todo mês. Se quiser, envie sugestões de pautas para os próximos meses.

  • Para onde a sua curiosidade está te levando?

    Uma reflexão contra ditadura da utilidade. Para onde a sua curiosidade está te levando? Uma reflexão contra ditadura da utilidade. Estamos condicionados a produzir, ser útil. Nessa rotina, em que executamos tudo que nos demandam, não sobra tempo — nem energia — para passatempos, novas descobertas, livre conhecimento. Entretanto, nossa espontânea curiosidade, é capaz de abrir a mente e despertar para novos caminhos. Um passatempo, um lazer com os amigos ou até uma atividade paralela ao seu trabalho — como o voluntariado, por exemplo —, que lhe traga satisfação. Sem relação com o peso da produtividade. E esse processo, despretensioso, pode nos levar por caminhos inimagináveis. Quer um exemplo? Recentemente visitei a Fundação José Saramago, em Lisboa, e conheci a trajetória do escritor. Você sabe como ele se tornou um grande intelectual, autor de mais de 40 livros, reconhecido internacionalmente e vencedor de um Nobel de Literatura? Eu, confesso, não sabia. Um currículo sem graduação, mestrado ou doutorado. Mas, com um Nobel de Literatura Apesar de ter sido excelente aluno, por questões financeiras, Saramago parou os estudos ainda no ensino médio e migrou para a escola profissionalizante onde fez o curso de serralheiro mecânico. Profissão que exerceu por alguns anos, até migrar para o funcionalismo público. Nesse curso, porém, havia uma disciplina de literatura que desperta seu interesse pela leitura. O gosto pela leitura e a falta de condições para adquirir seus próprios livros, o fizeram frequentar a biblioteca pública de sua cidade, todos os dias à noite. Por pura curiosidade e interesse por conhecimentos diversos. “E foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender, que o meu gosto pela leitura se desenvolveu e apurou” - José Saramago. De forma autodidata, num período sem internet, Saramago formou-se intelectualmente através das leituras. Anos depois começa a escrever e publicar seus primeiros livros. Sem dúvidas um exemplo sobre até onde a curiosidade pode nos levar. Ao longo de sua trajetória, que não foi linear, o escritor chega a se afastar da literatura por quase 20 anos. Mas, mantém seus estudos por meio da literatura e pesquisas bibliográficas. Em sua fundação, inclusive, encontramos sua carteirinha da biblioteca pública e inúmeras fichas onde fazia anotações referente às suas pesquisas. A partir dos conhecimentos acumulados, visão de mundo, consciência social e política tornou-se um dos principais pensadores e escritores da sua época. Vencedor de prêmios importantíssimos como o Nobel de Literatura e o Prêmio Camões de Literatura. Criou seu próprio estilo de escrita e foi um dos responsáveis pelo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa. Suas obras adaptadas para o cinema conquistaram o grande público, gerando reflexões relevantes sobre a condição social e os interesses do ser humano. Longe de mim, transformar esse texto em um discurso meritocrático. Principalmente porque não acredito nisso. É claro que, se Saramago trabalhava durante o dia e ia para a biblioteca à noite, dedicando-se inteiramente ao prazer das leituras, havia alguém cuidando de sua alimentação, roupa, casa, etc. Mas, esses aspectos ficam pra outro texto. O enfoque que proponho aqui é: quando Saramago decide frequentar a biblioteca para ler, o que lhe move é o desejo de aprender, a curiosidade sobre o que havia naqueles livros. Não estava frequentando nenhum estudo formal que o obrigasse a fazer isso. Não planejava ser escritor. Muito menos almejava a relevância que conquistou. Também não iria aplicar o que aprendia nos livros em sua profissão. E esse é o ponto: o quanto vincular nosso valor à produtividade constante, limita nossos aprendizados. Como se devêssemos dedicar nosso (precioso) tempo e energia somente no que terá uma aplicação prática, de preferência em um trabalho remunerado. Sem válvulas de escape, sem espaço para o prazer, deixando morrer todo lampejo de interesse livre. Destrinchei bastante esse tema no texto: Somente o Desnecessário (recomendo a leitura), mas destaco aqui esse trecho: “Esse caminho de consumo e produção nos distancia da oportunidade de aprendermos apenas para satisfazer uma desinteressada curiosidade ou para nos entretermos com algo diferente. Ter um passatempo, um tema de interesse livre pode nos ajudar a cuidar da mente, do corpo, reduzir o estresse e a tensão da rotina (…). Dessa forma, pessoas que não compreendem tais interesses, livres de utilidade, questionam e até criticam a “perda de tempo” com coisas que não terão retorno. Contaminando e desestimulando o prazer pelo conhecimento livre, que pode inclusive surpreender com a descoberta de habilidades que antes não conhecíamos”. Já pensou se Saramago achasse perda de tempo ir à biblioteca todas as noites, depois do trabalho? Se não dedicasse nenhum tempo a leitura, pesquisa, estudos. Talvez tivesse se resignado ao destino de trabalhador, sem estudos e perspectivas. Não teria despertado sua vontade de escrever, e aí toda sua grandiosa carreira, simplesmente não existiria. Por isso, hoje, deixo a reflexão: para onde a sua curiosidade está te levando? Quais universos, ou bolhas, você está inserido? Quantas delas não têm relação com sua atividade profissional? O desenvolvimento amplo e diversificado de habilidades, nos torna não só profissionais, mas principalmente, pessoas mais interessantes. E no fim, para além de cargo, somos uma pessoa que constrói e carrega o repertório que escolhermos. Faz sentido pra ti? Vamos trocar opiniões aqui nos comentários! Obrigada por ler, se você gostou compartilhe com seus amigos. Sigo tentando liberar um texto novo todo mês. Se quiser, envie sugestões de pautas para os próximos meses.

  • Pequenas pausas possíveis

    Para equilibrar produtividade e bem-estar Pequenas pausas possíveis - Para equilibrar produtividade e bem-estar Aguardando o cenário ideal, ficamos estagnados, sem realizar o possível. E sem poder modificar o ritmo de trabalho, tornar a rotina mais saudável, com pequenas pausas possíveis entre as tarefas, já fazem a diferença. Sim, parece tudo muito óbvio, eu sei. Mas, a provocação aqui é: por que não fazemos? Ficar horas a fio sentados, sem nem lembrar de beber água ou ir ao banheiro (#quemnunca), parece mais “fácil” do que se disciplinar a fazer pausas. Mesmo que esse modo só contribua pro adoecimento e não garantem alta produtividade, uma vez que são insustentáveis a longo prazo. Estamos no mês do trabalho, devido à comemoração do Dia do Trabalhador em primeiro de maio, e tenho visto (ainda bem) muitos debates legais sobre novos modelos de trabalho, com mais flexibilidade e qualidade de vida. Mais que importantes, essas iniciativas são necessárias. Inclusive trago aqui, como exemplo, uma dessas iniciativas. A @contente está construindo uma comunidade chamada #otrabalhoqueagentequer, focada em debater temas como trabalho, emoções e seus impactos. Saiba mais aqui, vale a pena! Mas, e o que podemos e (nem sempre) estamos fazendo pelo nosso bem-estar cotidiano? Tem sim muita coisa simples e viável, que colaboram para tornar a rotina um pouco mais leve. Por isso, compartilho aqui pequenas atividades que, quando encaixadas na minha rotina, trazem leveza e menos exaustão ao final do dia. Pausa para o chá Escolher o chá, aquecer a água, preparar, aguardar o tempo da infusão e servir. Acho que levo menos de 10 minutos pra isso e além do benefício da pausa e presença, ainda tenho o prazer de saborear um bom chá (que eu amo!). Mas, o mesmo serve para a turma do café ou chimarrão. Pausa para regar as plantas Encher o regador, regar, encher o regador, regar, encher o regador, regar… Até que todas as plantinhas sejam contempladas! Tenho muitas e às vezes preciso fazer por partes… Mas essa é uma pausa que gera movimento, contato com as plantas e me distanciam por uns minutos da tela. Pausa para ler um pouquinho Às vezes não dá pra desconectar totalmente, então mudar o foco já ajuda. Se atualizar das notícias do dia, ler um artigo, algumas páginas de um livro ou revista são algumas opções práticas. Com isso, dou um tempo e oxigeno as ideias com outros assuntos, para então voltar mais alerta para o trabalho. Realizar pequenas tarefas pessoais Algumas coisas não levam 5 minutos para serem feitas, mas ao se acumularem no final do dia, roubam um tempo precioso de descanso ou lazer. Então, reservar uns minutinhos para pagar aquele boleto ou agendar uma consulta médica, ajudam a mudar o foco e principalmente, liberam tempo para seu período de descanso. Alongar, respirar, caminhar Apesar de serem as mais clichês, também são as mais negligenciadas. Ficar horas sentados em frente ao computador não faz bem, sabemos disso… mas, faz parte do trabalho. Então lembrar de levantar, alongar, respirar profundamente e dar uma volta é muito importante. Para acordar o corpo e aumentar a disposição saindo da inércia, além das costas e lombar agradecerem no final do dia. Talvez nada disso vai entrar na rotina facilmente ou espontaneamente, principalmente em dias mais corridos. Mas aí, lembretes de pequenas pausas na agenda, podem ajudar! Priorizar pausas ao longo do dia não é fácil e pode parecer um luxo, mas são elas que, ao contribuir para sua saúde mental e física, te manterão em movimento. Com mais disposição para fazer o que precisa ser feito. E por aí, você tem feito pequenas pausas ao longo do dia? Faz sentido pra ti? Vamos trocar opiniões aqui nos comentários! Obrigada por ler, se você gostou compartilhe com seus amigos. Sigo tentando liberar um texto novo todo mês. Se quiser, envie sugestões de pautas para os próximos meses.

  • O repertório que alimenta a criatividade

    Reflexões sobre construção de repertório, para alimentar a criatividade. O repertório que alimenta a criatividade - Reflexões sobre construção de repertório, para alimentar a criatividade. Criar conteúdo com frequência é bem desgastante. A escolha da pauta é sempre um desafio: O que falar que já não falaram? Que abordagem trazer para algo já tão comentado? Consultamos, então, o baú de ideias, até que algo minimamente interessante apareça e possa ser desenvolvido a tempo da próxima postagem. O problema é que às vezes parece que esse baú está vazio, ou que nada é bom o suficiente, nada se encaixa… E agora? Em segundos estamos minados de insegurança, achando que criar conteúdo não é pra gente e sim para pessoas mais criativas e interessantes. #quemnunca. Acontece que criatividade não é dom, é transpiração no esforço de concatenar várias informações. O chamado repertório, formado por tudo aquilo que tivemos contato ao longo da vida. O lugar e as pessoas que convivemos, o que lemos, vemos, ouvimos, sentimos, enfim, fica tudo salvo em algum lugar da nossa memória — e inconsciente — e pode ser resgatado para dar um toque pessoal a algum conteúdo. Importa então saber observar, anotar, focar pra ficar gravado. Como uma árvore na floresta capaz de se alimentar pela rede subterrânea de raízes que a conecta com suas vizinhas-árvores. Podemos através da presença e observação nos nutrir de ambientes, relações, paisagens, caminhos que instigam e despertam novas ideias. Há também a busca ativa por repertório, quando vamos tratar de um tema novo. Nesse caso, a fórmula ideal seria: tempo + variedade de fontes, coisas que nem sempre estão disponíveis — pelo menos não ao mesmo tempo. Um bom planejamento pode ajudar nesse sentido, permitindo a antecipação das pautas, o que dá mais fôlego para uma pesquisa mais ampla. Amplitude útil para irmos além das referências “autoridades no assunto” — que muita gente já usou, analisou —, avançando para outras perspectivas do mesmo assunto, por outras fontes. Tentando encontrar um equilíbrio entre cânones e novas ideias para apresentar, pela diversidade de opiniões, a complexidade do assunto. Falando em diversidade, lembre-se que essa não é só uma palavra bonita pra constar na pauta, mas para estar nas referências, em quem é entrevistado ou consultado para o conteúdo. Se for falar de racismo, ouça pessoas negras, se for falar de mulheres, ouça mulheres, e por aí vai. Bom, tudo muito bonito, mas e, na prática? Não temos tempo, nem disposição, para pesquisar a fundo sobre tudo ou estar atento a uma variedade significativa de conteúdos para enriquecer satisfatoriamente nosso repertório — ou aquele baú de ideias. E sim, quanto a isso não há mágica. Nos resta apenas aceitar essa realidade e focar no que é possível. Normalmente escolhemos sobre o que queremos nos aprofundar, baseado em nossos gostos e interesses, ou temas relacionados ao nosso trabalho (clientes, demandas diversas que chegam). Afinal, é preciso sobreviver. O ponto é que esse comportamento nos mantém dentro de algumas bolhas e — graças a ajuda não solicitada dos algoritmos — permanecemos nela pelo máximo de tempo possível. Por isso, busco sempre alternativas para variar minhas referências. Compartilho aqui 3 delas: Não desmereça seus gostos e interesses, não relacionados diretamente ao trabalho. É comum que nossos passatempos e curiosidades mais “inúteis” sejam deixadas de lado quando o objetivo é acumular repertório para a produção de conteúdo. Quando, na verdade, é desse interesse despretensioso que pode vir uma ideia, ou um toque pessoal para aquele conteúdo padrão. Por mais difícil que possa ser, de vez em quando, ouça a opinião de alguém que você não concorda ou pesquise sobre um tema que você é contra. Conhecer um olhar totalmente diferente, e às vezes, quem sabe, absurdo, expandirá sua visão sobre o tema ao considerar todos os lados possíveis. Se desfaça de preconceitos com conteúdos considerados populares demais. Vivemos em um país em que, ainda, a maior fonte de informação e cultura vem da televisão e do rádio (sim, nem todo brasileiro tem internet e muitos dos que tem, não é para o uso em livre demanda. Já se deu conta que não dá pra assistir a um filme, uma aula ou ouvir podcasts só com o plano de dados do celular? Pois é). Então, saber qual o tema da nova novela ou o que tem sido notícia nos programas de canais abertos, ajuda na compreensão dos interesses e pautas da nossa sociedade. E vale lembrar que consciência social é fundamental para sermos responsáveis na hora de produzir conteúdo, mesmo que ele seja mais nichado. Pra fechar, deixo uma pequena contribuição com dicas de últimas coisas que vi, li, e ouvi: Vi: Documentário: Amor e Música — Fito Páez (El amor después del amor), Netflix. Com roteiro baseado nas memórias do cantor e compositor argentino, o filme narra a vida do cantor desde a infância até a turnê do seu álbum de maior sucesso: El amor después del amor, que comemorou 30 anos do lançamento em 2022. Fito teve uma infância cercada pela música, amor e afeto, mas na fase adulta sai dos trilhos por conta de drogas, violência e traumas. Reencontrando-se por meio da sua arte, sua música e um novo amor. Li: Livro: A Revolução das Plantas, um novo modelo para o futuro, do escritor Stefano Mancuso, publicado pela Editora UBU. O que podemos aprender com as plantas? Muito mais coisas do que imaginamos, leia a resenha do livro aqui e se entregue a um novo universo de aprendizados. Ouvi: Podcast: O Corre delas, com Luanda Vieira, no Spotfy, produção Obvious. O podcast fala sobre trajetória profissional de mulheres, sem romantização, com os altos e baixos que toda carreir tem, sempre com convidadas inspiradoras. O repertório que alimenta a criatividade Faz sentido pra ti? Vamos trocar opiniões aqui nos comentários! Obrigada por ler, se você gostou compartilhe com seus amigos. Sigo tentando liberar um texto novo todo mês. Se quiser, envie sugestões de pautas para os próximos meses.

  • Millennials e a expectativa que não virou realidade

    A geração que cresceu na era da internet, tendo acesso a mais tecnologia, informação e educação do que todas as anteriores, tornou-se também uma promessa de sucesso. Millennials e a expectativa que não virou realidade. Os millennials cresceram em um período promissor, o que fortaleceu a ideia de que aos 30 já estariam profissional e pessoalmente resolvidos e estáveis. Mas, a realidade foi completamente diferente. Entre os sonhadores e trabalhadores de 25 anos, chegaram aos 35 adultos cansados — mental e fisicamente — muitos já tendo sofrido um burnout e repensando sua carreira, descobrindo novos propósitos e objetivos. E o que pode parecer uma crise existencial, nada mais é do que o reflexo de questões do nosso tempo. Onde deveria(mos) estar agora? Minha reflexão começa neste post certeiro da Obvious: As afirmações dessa postagem são bastante complexas, eu sei, mas de maneira geral podemos dizer que antigamente importantes etapas da vida chegavam mais cedo: casamento, filhos, trabalho. Se você é um millennial, provavelmente seus avós casaram por volta dos 15 anos, seus pais antes dos 20 anos. Em um período, pré-internet e tecnologia, em que era mais difícil ter acesso à educação e informação e com menos alternativas de estilo de vida. O que tornava comum que aos 30, adultos já tivessem sua casa, mais de um filho e um emprego estável no qual, se tudo desse certo, ficariam até a aposentadoria. Porém, com a globalização, a era da informação e a internet o mundo mudou. A sociedade foi se transformando e casar e ter filhos já não era mais o principal objetivo. Surgiram novas possibilidades de trabalho e modos de vida, e muitos passaram a priorizar os estudos, experiências, o trabalho. Contudo, atualmente muito tem se falado — em reportagens, estudos e pesquisas — sobre como os millennials, hoje na faixa de 30 a 40 anos, são a geração que “deu errado”, a “mais azarada”, a mais frustrada e com mais problemas de saúde mental. Mas, por quê? Primeiro, acho que estamos medindo o sucesso dos millennials com balizadores do passado. Uma geração que escolheu — na realidade e privilégios de cada um — priorizar os estudos, conhecer outras culturas, construir uma carreira (ou empreender) precisou, para isso, adiar outras conquistas. Me parece natural, portanto, que a conquista de casa, carro e filhos, por exemplo, tenha ficado para mais tarde. Os marcadores de sucesso são outros, relacionados a experiências — profissionais e pessoais — e a aprendizagem, através de cursos formais ou vivências culturais, por exemplo. Movimentos que também ressignificam a necessidade de aquisição de bens mais tradicionais, como casa e carro. Muitos, optam pela segurança de uma reserva financeira e morar de aluguel, andar de carro de aplicativo. São escolhas que puderam ser feitas porque haviam essas alternativas e as pessoas mais informações para ponderar e decidir. Entretanto, na hora de analisar a realidade millennial, pesquisas e estudos geracionais sempre incluem o comparativo com padrões antigos, destacando como a geração demora mais para conquistar “marcos tradicionais da vida adulta” como comprar uma casa e carro. Demonstrando que apesar de algumas evoluções, as métricas tradicionais se sobressaem, pois, são a linguagem universal. Afinal, existe outra forma de dizer que uma pessoa é bem sucedida, do que apontar que ela tem casa, carro, emprego e família? Para mim, talvez para você também, sim. Mas, para a sociedade em geral, esse segue sendo a melhor forma. E apesar de essa ser uma das gerações mais abertas à diversidade, disposta a encarar problemas antigos como desigualdades sociais e de gênero. Ser empreendedora, criativa, adaptativa e resiliente. Ter também mais consciência do impacto dos seus hábitos no planeta, preocupada e engajada com questões de impacto global. Seu sucesso ainda é medido por meio do seu poder de consumo — afinal, mundo capitalista. O que não significa que essa geração não esteja enfrentando problemas. Os dados sobre o quanto millennials sofrem de ansiedade e chegaram mais cedo a um burnout, por depositarem todas as fichas da realização pessoal no trabalho, são reais. Por isso, trago um segundo ponto: precisamos considerar as expectativas versus a realidade enfrentada pelos Millennials. As diferenças entre gerações existem, por conta da mudança de contexto de uma pra outra. Conforme explica o pesquisador de tendências Luiz Arruda, no podcast Bom dia Obvious: “cada geração é filha do seu tempo”, sofrendo influência do contexto social, cultural, econômico, político, conjunto de valores e moral do seu tempo. Quando os millennials chegaram, na década de 90 e 00, vivíamos no Brasil um período de esperança, com a redemocratização e a estabilidade econômica com o Real. A promessa era de mais trabalho e acesso a oportunidades, principalmente com a chegada da internet e a criação de importantes programas governamentais de incentivo à educação (como Fies, Prouni, Ciências Sem Fronteiras, cotas raciais, entre outros). “Seus pais lhes disseram que seriam bem-sucedidos, eles tiveram amplo acesso à educação, em comparação com gerações anteriores, e havia um grande senso de conexão e de causar impacto", explica Jason Dorsey, pesquisador de perfis millennials, à BBC News Brasil. E, apesar da calça de cintura baixa e a onda emo, os millennials cresceram podendo planejar o futuro e acreditar na realização de sonhos. Muitos — nos privilégios da sua realidade — sentiam poder conseguir alcançar seus objetivos, o momento era propício, havia mais oportunidades, era preciso “apenas” agarrá-las. Expectativas altas foram criadas e quem pôde, entrou de cabeça nos estudos e no trabalho, na linha “trabalhe enquanto eles dormem”. Acreditando que assim, logo teriam uma carreira, estabilidade financeira e poderiam aproveitar a vida antes da aposentadoria. Contudo, quem hoje está na faixa dos 30 – 40 anos sabe que a maioria desses sonhos ficaram para trás, ou continuam em processo de serem conquistados. E o que chegou, mais cedo do que se esperava, foram problemas de saúde mental, como burnout e crise de ansiedade, por tamanha dedicação ao trabalho. A economia melhorou, mas depois piorou. O real chegou estabilizando a moeda e vivemos, sim, ondas de progresso, com mais oportunidades de emprego, acesso à cultura e educação. Mas, essa onda passou, veio a crise, não só econômica, mas também política. Tudo ficou instável, vivemos uma pandemia, o custo de vida aumentou, os salários estagnaram, a possibilidade de aposentadoria evaporou. Voltamos ao mapa da fome, vimos os índices de desmatamento aumentar e a crise climática piorar — só pra citar alguns fatores. A internet trouxe, sim, algum avanço, mas não para todos. Ainda em 2023, século XXI, nem todos os brasileiros têm acesso à internet em livre demanda. E para quem pode estar conectado, conheceu também as fake news, influencers e coachs. Na carreira, mesmo que formados e exercendo uma profissão, houve uma onda de questionamento sobre propósito e identificação. Reconhecendo que ter depositado no trabalho a principal fonte de realização e felicidade foi um erro e trouxe consequências. O que complicou com a plataformização e pejotização do trabalho, que surgiram como alternativas mais flexíveis e autônomas, mas também trouxeram instabilidade, insegurança e jornadas mais longas. Situação que Jason Dorsey, explica em comparação a geração anterior: “Nossas pesquisas mostram que eles não tinham expectativa de trabalhar em uma só empresa a vida toda, nem de ter o mesmo empregador para o resto da vida. (…) Então há uma sensação de empolgação e liberdade, a ideia de que 'posso criar minha própria carreira', mas, ao mesmo tempo, há a desvantagem: os empregadores podem não oferecer os mesmos benefícios de antes em seguridade, plano de saúde, etc. A responsabilidade disso acaba passando do empregador para o millennial. Em alguns casos isso funcionou bem; em outros, não”. Jason Dorsey, em entrevista à BBC News Brasil. Portanto, o fato das expectativas estarem difíceis, e talvez ainda distantes de se tornarem realidade, não é exclusivamente uma questão individual. Mas, consequência de um contexto econômico e socialmente desafiador enfrentado por essa geração. Mais realidade, menos expectativa Talvez, no meio disso tudo, o desafio seja exercitar atitudes mais generosas consigo mesmo, reconhecendo e celebrando pequenas conquistas. Definindo para si novos balizadores de sucesso, como saber aproveitar o processo, valorizar os aprendizados e encontros do caminho. Se é como dizem, os 30 são os novos 20 e ainda há muito tempo pra realizar, sem a pressão de estar atrasado e compreendendo que nem tudo está no nosso controle. Como propõe essa reflexão da Marcela Ceribelli, no livro Aurora, o despertar da mulher exausta. “… acredito que quanto mais rigidamente lidamos com a vida, menos felizes vamos ser. Cada dia eu tenho mais certeza de que nosso ideal de futuro nos impede de ter uma vida minimamente plena. Por mais que o planejamento seja importante, precisamos deixar espaço para a impermanência”. Millennials e a expectativa que não virou realidade Faz sentido pra ti? Vamos trocar opiniões aqui nos comentários! Obrigada por ler, se você gostou compartilhe com seus amigos. Sigo tentando liberar um texto novo todo mês. Se quiser, envie sugestões de pautas para os próximos meses. Referências dessa news: Livro: Aurora, o despertar da mulher exausta, de Marcela Ceribelli, editora Intrínseca. Podcast Bom dia, Obvious, episódio: Millennials em fúria, com Luiz Arruda. Instagram Obvious. Matéria: O que deu errado com os millennials, geração que foi de ambiciosa a 'azarada'.

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