Aprendizados que ficam, independente do lugar em que estamos.
Recomeçar não significa "jogar tudo fora" | Aprendizados que ficam, independente do lugar em que estamos.
Um dos sentimentos mais recorrentes num processo de transição de carreira é o de estar jogando fora tudo que construímos profissionalmente, até aquele momento. Como se todos os aprendizados adquiridos não servissem mais para nada e nos tornássemos uma folha em branco, pra aprender tudo do zero. Mas isso não é uma verdade.
Inclusive, essa crença me parece mais um obstáculo que inventamos para atrasar a tomada de decisão. Afinal, mudar não é nada fácil. Diversos sentimentos se misturam: medo, insegurança, a crítica daqueles que não entendem porque você está fazendo isso. E a frase mais ouvida, dos outros e de nós mesmos, é "Você vai se arrepender!".
Entretanto, nem todo mundo acredita que sucesso é sinônimo de cargo, posição e dinheiro. Há quem tenha outras prioridades e trabalhe para viver, ao invés de viver para trabalhar. Portanto, mudar pode ser tão bom quanto seguir onde se está, desde que haja propósito e clareza sobre o que se quer. E optando pela mudança, a certeza de que carregamos conosco tudo que aprendemos até ali é fundamental.
Recentemente escrevi um texto sobre a falsa ideia de que precisamos usar nosso tempo somente com atividades úteis. Como se toda ação tivesse que atingir um objetivo, retirando de nós as oportunidades de puro lazer, ócio e desenvolvimento da curiosidade livre. (Texto escrito com base nas leituras de A utilidade do inútil, de Nuccio Ordine e A vida não é útil, de Ailton Krenak, você pode ler aqui).
E no mesmo sentido, afirmo: mesmo que algumas habilidades e experiências de trabalho não sejam diretamente úteis em nossa nova profissão, de alguma forma ainda contribuem para sermos o profissional que somos. Segundo o conceito de polímata (explicado mais profundamente nesse artigo do Michael Simmons e traduzido pela Clara Cecchini), há um valor estratégico no profissional que domina mais de um tema, ao invés de ser especialista em um só.
Os chamados profissionais polímatas seriam mais preparados, por ter um repertório amplo e conseguir combinar diferentes habilidades em prol de suas carreiras. Seja pelo aprendizado intencional de diferentes temas ou através de experiências diversas, como um passatempo diferente do contexto da nossa profissão.
Como um economista pode desenvolver a sociabilidade com aulas livres de teatro; um professor, pode exercitar a paciência pelo cultivo de plantas. Não há regra sobre como e o que é válido aprender, porque tudo que aprendemos é válido.
Recomeçar não significa "jogar tudo fora"
Eu mesma, comecei a trabalhar muito jovem na área de produção de calçados numa pequena empresa familiar. Quando saí de lá, pro meu primeiro emprego "fora" como secretária, nem tudo que eu sabia era aplicável, por motivos óbvios. Mas, eu já tinha uma postura profissional, sabia trabalhar em equipe e uma visão holística de processos.
Pode parecer pouco ou até generalista, mas ter essa base ajudou a me destacar nessa primeira experiência. Depois disso, tive duas vivências na área comercial e ambas contribuíram para o desenvolvimento da minha comunicação, como também me ensinaram sobre planejamento e estratégia.
Anos passaram até minha primeira e tão esperada oportunidade na área de marketing. Na época, eu era apenas uma estudante de Publicidade e Propaganda, o frio na barriga era grande, tinha muito que aprender. Mas graças aos meus aprendizados anteriores me senti preparada para iniciar na nova área.
E deu tudo certo! Passei 9 anos atuando no marketing de diferentes empresas e segmentos. E apesar de me manter na mesma área, a cada nova experiência precisei me adequar e estudar coisas novas. Aprendi muito, tive a oportunidade de ensinar, sempre com o foco em acumular repertório.
Há alguns meses, após uma pausa e um profundo processo de autoconhecimento, me (re) encontrei na escrita. E por conta disso, atualmente, vivo mais um processo de transição: do marketing para a escrita. Ao escolher focar nela como profissão, começo uma nova caminhada.
Mas com a certeza de que levo comigo uma ampla bagagem na área da comunicação, com competências bastante pertinentes para o meu novo contexto. Pois, mesmo que mudar de carreira signifique trilhar um novo caminho, não deixei pra trás nada do que já fiz, vivi e aprendi. Está tudo aqui dentro e é esse conjunto que forma não só a profissional, mas a pessoa que sou.
Aprendizados que ficam, independente do lugar em que estamos.
Acredito que uma caminhada de mudanças não nos faz mais fraco ou um "especialista em coisa nenhuma". Mas, sim, um profissional diferenciado, com capacidade de adaptação e um baita repertório.
Por isso, se existe a vontade de mudar, não deixe que essa sensação de estar "jogando tudo fora" paralise você. Já dizia Darwin: “Não são os mais fortes ou os mais inteligentes que sobrevivem, mas aqueles que podem gerenciar melhor a mudança". E esse gerenciamento é, sim, mais fácil quando você toma consciência das suas diferentes habilidades e passa a usá-las a seu favor.
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